As pessoas não sabem valorar as coisas. Confundem tudo.
É tudo ignorância. Eu também sou, em muitos outros assuntos, mas não neste.
Uma colega do trabalho foi assistir um concerto de orquestra esta semana. Não faz parte do mundo dela, nunca fez, e obviamente ela saiu e lá extasiada com a grandeza daquilo tudo, com a beleza de tudo, com o som, com a harpa, com tudo. Ficou realmente impressionada.
Nada daquilo que ela dizia me era estranho. Cresci numa família onde música erudita sempre se fez presente; toquei flauta, violino, piano e cantei por tantos anos. E achei super legal a impressão que ela teve, e como gostou do programa diferente.
Daí ela soltou a pérola: “aquilo sim que é música. Não funk ou pagode.” Fiquei com raiva. Não porque eu goste de funk ou pagode, mas não acho justo essa desvalorização.
Vejamos. Música nada mais é que sons que se harmonizam, chegando numa melodia, contendo ou não letra. Notas musicais unidas formando uma pauta, uma partitura.
Música é expressão, cultura. Música clássica reflete uma época; pagode, de outra; funk, de uma parcela da sociedade. Pra uns soa muito mais agradável um ‘batidão’ do que um quarteto de cordas.
Mas quem sou eu pra julgar e dizer que não é música? Acho muito abuso. Se a gente não gosta, tudo bem, mas música é sim. Essa minha colega só gosta de MPB, porque ‘isso sim é música’. E agora se encantou com o som do violino. Será que deveria apresentá-la Dream Theater, banda de metal que usa instrumentos clássicos? Ou lembrá-la que existe percussão – com suas devidas proporções e adaptações – numa orquestra? Então deixa de ser música?
Aquilo me chateou e muito. Música é música, goste você ou não de um estilo. Isso vai do seu ouvido e tolerância. Ninguém é obrigado a gostar de tudo, mas as pessoas se manifestam como achar adequado e como melhor lhes convir, inclusive pela influência cultural que tiveram. Seja através de pagode, funk, sertanejo, emocore, samba… Cresci comprando cd de Frank Sinatra, Os 3 Tenores, CDs orquestrados, várias coleções, e ainda as tenho e nem por isso deixo de ouvir MPB, rock, samba, hiphop e, porque não, vez por outra um funk.
Pra mim isso é puro sinal de ignorância, de intolerância. E eu não curto isso. Não curto gente que simplesmente desqualifica algo só por não achar adequado pra ela. É a mesma coisa de dizer que gosta de azul e por isso cinza é podre.
Queria vê-la desqualificando as músicas da boate em que ela foi comemorar os 50 anos. E não me venha dizer que era flashback e tudo bem. Tá cheio de música ruim naquela sua época de mocinha também, meu bem.